A subtil arte de se auto ajudar


As pessoas estão desesperadas.

No meio da azáfama que parece ser o quotidiano, e a própria vida, as pessoas sentem-se infelizes, exaustas, perdidas. Querem recomeçar, mudar alguma coisa, e procuram uma fast solution para essa mudança, que se quer de dentro para fora, eficaz e com a mais baixa relação 'dor/benefício'.

Talvez seja esta a explicação para que os livros de autoajuda vendam. e vendam. e vendam. inclusive, a pessoas que nem gostam ou têm o hábito de ler. crê-se (ou fazem-nos crer) que, se se repetirem frases optimistas de manhã à noite é possível que em algum momento acreditemos nelas. e melhor: que elas mudem as nossas atitudes.

Ali, em cada um desses livros, está a solução para a mudança. ali está o segredo. e os títulos mostram isso mesmo: a esperança de uma vida melhor, de resgatar o sorriso que não se tem há muito tempo, a possibilidade de alcançar a felicidade. aquela que as pessoas acham que já não sentem. ou que nunca sentiram. como se ler qualquer uma dessas obras excluísse a necessidade de ajuda profissional (entenda-se psicólogos, psicoterapeutas,...) por serem também essas obras auto..suficientes - refiro-me obviamente a casos mais "sérios" porque dias maus e inseguranças (em que nos sentimos 'menos' ou 'menores') todos temos.

apesar de não ser o tipo de 'literatura' que mexe com os meus neurónios, reconheço que sempre existiu uma certa curiosidade em conhecer os conteúdos e perceber o fenómeno. é que custa-me a crer (sinceramente) que gastando quinze ou vinte euros a pessoa irá conseguir recentrar-se.

quer-me parecer que, para isso acontecer, o melhor será sempre comprar TODOS os livros de autoajuda que encontrarem por aí... pois 1) cada um ajuda na medida que pode, 2) um bom mantra nunca é demais e, 3) o seguro morreu de velho; se lerem tudo, alguma teoria/método/ferramenta (?) há-de resultar; seja pela meditação seja por princípios da psicologia que os autores tendem a 'oferecer' aos seus leitores (sim, é praticamente oferecido porque num consultório da especialidade muitos de nós tínhamos de arrancar um rim para suportar o acompanhamento - sério e longo - de uma terapia).

se é importante termos controlo sobre as nossas emoções, os nossos comportamentos e o nosso relacionamento com os outros? parece-me óbvio que sim. mas também me parece óbvio que muito do que anda para aí a circular nas livrarias são: negócios da china para os que escrevem, e uma exploração dos bolsos de quem os lê. e também me parece que, em muitos casos, não será suficiente. ou suficientemente útil. importa saber filtrar.

De facto, todos esses livros podem ajudar de alguma forma mas vou contar-vos um segredo: haja livro ou não na mesinha de cabeceira, sem vontade ou iniciativa de fazer por mudar ou melhorar... não há milagres.

soa a verdade de La Palisse. e é.
e não é a única.
a partir de frases inspiracionais, retiradas do Pinterest

e entre tantos mantras (alguns deles muito estúpidos) que encontramos por essa internet fora ficou-me esta: "somos arquitectos do nosso destino". li esta frase e pensei: que coisa bonita, caramba! e aqui percebi que... qualquer frase motivacional deixa-nos logo cheios de optimismo. mas que faço com isto agora? vou criar um negócio? vou encontrar um novo amor? vou mudar de casa? de país?

nada disso.

enchi-me de coragem... e resolvi dedicar-me à "Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da" (título original "The Subtle Arte of Not Giving a F*ck")do Mark Manson.

porque estava curiosa, porque promete contrariar a banhada optimista que a maioria desses livros nos dá, e... porque me ofereceram o livro.

mas não o faço assim, a seco. leio-o na praia. enquanto estou de férias. para absorver tudo melhor: mantras no cérebro e sol na pele. a leitura até me sabe melhor. e se isto não sou eu já em modo "feliz e optimista" não sei o que será então. 
(by the way, encontram-no à venda nas livrarias físicas ou online como Fnac, Bertrand, Wook, and so on).

capa do livro, retirada da Wook


"Durante décadas convenceram-nos de que o pensamento positivo era a chave para uma vida rica e feliz. Mas esses dias chegaram ao fim. Que se f*da o pensamento positivo! Mark Manson acredita que a sociedade está contaminada por grandes doses de treta e de expectativas ilusórias em relação a nós próprios e ao mundo." (a partir da sinopse do livro)

assim que terminar de ler, dou-vos feedback.

wish me luck! 😉


nota mental: podem ler sobre a questão da utilidade dos livros de autoajuda aqui, num artigo da TSF; e sobre a 'inutilidade' aqui, num artigo do Público, já com alguns anos mas que me parecem perfeitamente actuais.



[ escrito pela D. ]


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