Não tarda vai chover


O verão chegou ao Algarve. Pelo menos os últimos dois dias foram dias com sol e calor. Por isso fui até à praia. Vantagens de ser algarvio é que consigo sempre encontrar, ainda, aquela praia mais Time Out das 10 praias ainda, quase, desertas no Algarve.
Daí que tenhamos que seguir regras.
Primeiro dia de praia. Chegar, respirar porque ainda é tão fácil estacionar. Descer até ao areal e daí até ao spot. Olhe para ver a relação entre pessoas na toalha versus pessoas dentro de água. Serve de indicador sobre a temperatura da água caso a amostra não esteja ainda maculada por não residentes.
Assentar arraiais. Primeira ação: publicar uma boa foto da praia sem ninguém, só para fazer inveja e dar a ideia de que se conhecem sítios. Os sítios. Depois dos comentários f**idos de quem está a trabalhar, ameniza-se com um "é para ficar com pelo menos um registo, que isto não tarda vai chover".


A seguir: estender toalha, espalhar chinelos e roupa e barrar levemente o corpicho com protetor. 
Em caso de imaturidade, corra para a água. Caso queira dar a entender que é um homem maduro, sente-se, respire fundo e olhe o horizonte.
Espere 5 a 10 minutos. Dirija-se calmamente para a água e deixe que o seu corpo lunar, mas moisturised (foram necessárias 5 tentativas para encontrar a palavra no google), desfile até à rebentação exibindo o corpo fit que levou um ano a preparar para este momento, repetindo para si mesmo: o abdominal está todo cá, não se nota porque tenho a pele muito espessa; os peitos também não estão como deviam porque há dois dias que não treino e perderam algum inchaço, mas a minha barriga das pernas é o melhor de mim. Afinal o que conta é o interior e uma boa perna.
Chegue à água e molhe despretenciosamente o  pé, conhecerá dentro de si todo um mundo lexical para descrever a temperatura da água. Passa muito por "Herda, grilhos da Gruta que os partiu a todos e mais a lona da mãe dela".  Não entre em pânico, mova os braços, dê meia volta e regresse.
Dois factos a registar no caminho: os algarvios já estão em minoria na praia, pela quantidade de gente dentro de água, e ainda não é agosto, porque a minha toalha continua isolada num raio de 100 metros.
Nem tudo está perdido.
Relaxe. 
Cumprido o protocolo, relaxei e lembrei-me que um bom lugar para trabalhar ásanas é na praia, pelo menos é o que dizem nas aulas. Não explicam é em que praia ou quais as posições, porque a única que me pareceu apropriada foi shavásana, que é como quem diz deitado. Mas como aprendi, e muito bem, o melhor yoga é o nosso yoga. Foi o que fiz. Sentei-me e comecei a reler Uma Ideia da Índia de Alberto Moravia, na excelente edição da Tinta da China. Digo reler porque tinha o livro com sublinhados e notas minhas, na verdade deve ter sido um momento e varreu-se-me. E esta é uma vantagem, porque assim leio e já me vou preparando para a minha viagem à Índia em fevereiro. E era aqui onde queria chegar, hoje estive numa praia deserta em pleno Algarve e vou um mês, inteirinho à Índia. Isso e que tenho o mais fantástico fashion statement, ainda que de uma coleção anterior, deste verão. As mais fantásticas havaianas dos minions que podia haver. 

[ escrito pelo M.]





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